8
O canto de Lilith. Oh meu
amor, estavas perdido. O Sol inclina sua face até as montanhas Ocidentais. Tu
esquecestes os lugares de onde surgiste. Tu vagas sobre as profundezas e teus
pés estão banhados em sangue. Foges através dos vales e a bruma acumulada te
traga, e as sombras te reclamam. O caminho está semeado de espinhos. O asno
selvagem pasta pelo caminho. Um ladrão na noite roubou as pedras indicadoras. O
crepúsculo cai entre tu e a tribo de teu pai que vai adiante de ti. Suas
pegadas foram engolidas. Suas vozes deixaram de fazer eco nas colinas.
Mora comigo nesta noite e eu
te confortarei. Embaixo do céu aberto eu te darei abrigo. Deita na encruzilhada
com tua cabeça em meu colo. Branco minha coxa como a asa do cisne recentemente
amadurecido, suave como a pluma que reveste o ninho das aves aquáticas.
Renuncia a tuas preocupações do dia e eu aliviarei tua fronte com beijos. Minha
língua transborda a doçura do favo de mel. A exuberância da granada que é partida
em sua madurês, assim meus lábios fazem-se maduros sobre teus lábios. Bebe o
vinho de minha boca. A qual é um cálice transbordante como o vinho do desejo.
Embriaga-se com meus beijos. Oh solitário viajante.
Busca refúgio embaixo do
arco das minhas coxas. Estas são poderosos pilares de alabastro que sustentam o
firmamento de estrelas fugazes. Refresca tua língua nas refrescantes fontes de
meus peitos. Estes são distantes montanhas cobertas de neve que caem em torrentes
espumadas. Oculta tua cara em meio do emaranhado matagal de meus cabelos. Este
é um denso bosque com árvores de fragrâncias especiarias. Oculta-te
profundamente atrás da forte entrada de meu útero. Esta é a Casa de Santidade,
sim, incluindo o Sancta Sanctórum (santo dos santos).
Eu sou branca e formosa. Meu
semblante brilha com a pálida luz da Lua em seu esplendor. Entra em meu Jardim
Secreto e faça-se dentro de mim caramanchão. Fica comigo, Oh meu amor. Não te
preocupes pelo passo dos dias. As estações voltam e caem como as pétalas da flor.
Os anos se afastam como as nuvens depois da chuva. Incluindo quando teu lapso
de vida fazia-se finalizado, fica em meu abraço. Eu te trarei o suave abrigo da
terra e jazerei ao teu lado até os confins do mundo.
Não esforce-se para
levantar-te, meu amor. A longa noite tem ainda que acabar. Eu não partirei tão
cedo do calor de tua respiração. Meus braços se apegam ao redor de teu colo
febril igual o fio da aranha umedecido pelo orvalho agarrado à mariposa
trêmula. Meus lábios vermelhos se grudam com a doçura do mel em tua cara. Estás
capturado entre o forte arco de minhas coxas. Meu útero devora todo teu membro
inchado como a serpente que traga sua presa rapidamente e com vida.
Eu sou negra e de terrível
aspecto. Meus olhos são vividas brasas que ardem como um fogo esmeralda nas
cavernas de meu crânio. Meus dentes são afiados como os do dragão que esmaga
seu inimigo em um abraço mortal. Agudas minhas envenenadas unhas como as presas
da víbora que sibila. Meus lábios são vermelhos pelos coágulos de sangue, de
minha boca goteja sangue fresco, minha língua bifurcada é negra como a Morte, o
fedor da carniça se agarra a minha respiração, e as moscas veem e se pousam em
minhas bochechas. Negros são meus peitos como as colinas das profundezas.
Minhas coxas imensas colunas de ébano que inclusive se estendem para abaixo até
os mesmos cimentos do Abismo. O leviatã enrola sua viscosa largura sobre eles e
faz de meu útero sua guarida. Este Engendra serpentes como o faz a barriga
podre de um cavalo morto.
Não tentes escapar, Oh meu
amor. Meus braços te contêm com uma força terrível, eu te sujeito a meu peito
com os grossos fios de meu cabelo. Sou uma Deidade Ciumenta. Nenhum outro deus
deitará contigo. Eu sou a Prostituta Celestial, a Rainha de Todos os Prazeres.
Nenhum outro amante te agradará na vida. Tua semente é o pagamento que exijo
por minha prostituição. Tu és a fonte de meu deleite como o cadáver deleita o
chacal no deserto. Os gritos que nascem e morrem em tua garganta nutrem minha
obscuridade. Teu medo excita minha luxúria. Eu não deixarei de abusar de ti
todo o tempo que te ame. Nem tu poderás libertar-te jamais de mim, porque nos
unimos como uma carne embaixo da face escura da Lua. Eu grito pelo excesso de
minhas paixões. Meus gritos são como os do pássaro que voam pela noite
gritando.
Temeroso viajante, tu sonhas
um sonho do qual não vai despertar. Tu vagas perdido em uma obscuridade que não
tem amanhecer. Resigna tua alma a minhas carícias e coloque-se ébrio com a
embriaguez de meus beijos. Verdadeiramente eu te amo como nenhuma filha de Eva
pode amar-te. Tu te fazes mais forte em minha luxúria que na luxúria nascida da
carne. Eu te ensino deliciosos pecados desconhecidos pela luxúria nascida da
carne. Eu te ensino deliciosos pecados desconhecidos pela humanidade. Os
prazeres que eu dou são os mais vívidos. Os caminhos que abro são profundo
caminhos. Guarda-te do vão arrependimento e esquece a luz rosada do amanhecer.
Faça surdos seus ouvidos ao canto do galo. Aninhe-se para sempre embaixo da
aveludada sombra de minha asa. Meu filho, minha carne, meu próprio dono, como
podes pensar que te abandonaria?
Nenhum comentário:
Postar um comentário