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Samael olhou para o luminoso
rosto do Homem e seu coração ardeu maléfico de ciúmes. A criatura que ele havia
dado existência pelo fogo de sua respiração tinha uma mente maior que qualquer
Arconte. Nele não havia nenhuma mancha de maldade. Era totalmente puro pelo
poder de sua mãe. O primeiro Arconte percebeu a faísca de clara luz no Homem. E
que ele não havia percebido dentro de seu próprio peito. Como quando uma coisa
pode ser vista em um espelho, sem o qual não é possível ver, ele o viu. Samael
cobiçou a faísca e pretendeu possui-la.
Os Arcontes e anjos odiaram
o Homem porque este os avantajava com seu poder de pensamento e estava livre de
pecado. Eles choraram juntos e despertaram nele o pesar das necessidade e os
desejos que recordam o corpo, mas fizeram esquecer o espírito. Distraindo os
pensamentos do Homem. Seus olhos deixariam de olhar a faísca de Barbelo que
brilhava dentro deles. Os Arcontes criaram para ele um lugar aonde colocá-lo e
o puseram dentro, o chamaram Paraíso. Eles o disseram, “Come abundantemente das
frutas das árvores, desfruta embaixo do Sol”, mas as frutas de suas árvores
eram um amargo veneno e seus prazeres falsidade e morte. Com estas coisas se
esqueceram do espírito. Assim que eles o embriagaram com luxo.
No meio do paraíso crescia
uma árvore ao que os Arcontes chamaram de a Árvore da Vida. Verdadeiramente é
uma árvore do tormento cujas folhas são mentira e cujas raízes bebem de
corrupção. Suas sementes são o desejo, suas flores o pecado e sua fruta é a
morte. A sombra da árvore é o ódio. Brota na obscuridade e aqueles que comem de
sua fruta entram na obscuridade e no sofrimento.
No meio do Paraíso crescia
uma segunda árvore que os Arcontes chamavam de Árvore do Conhecimento do Bem e do
Mau. É a árvore da presença da pura luz. As raízes da árvore bebiam da fonte da
água da vida que sustenta aos Eons. Suas folhas são música, sua semente é a
promessa, e suas flores castas. A fruta da árvore é o conhecimento do caminho
de descender e do caminho de ascender. Aqueles que comem da sua fruta se elevam
através dos Eons e se unem com o Filho do Espírito Invisível perfeito, o
Autogenito o Mashia.
Os Arcontes deixaram a
Árvore da Vida sem proteção para que o Homem pudesse desobedecer a lei de Samael
e pudessem comer dele pecando, mas a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal a
cobriram com suas asas ocultando-a do Homem para que este não comesse dela e
despertasse e se envergonhasse pela nudez de sua loucura. Porque o Homem
caminha como em um sonho de esquecimento e obedecia as leis de Samael e o
chamavam de Senhor. Ele não sabia que a luz estava com ele, e em Samael somente
havia fogo e obscuridade.
Samael envolveu em sonhos o
homem mas este não era um verdadeiro sonho senão um esquecimento da mente. Ele
pretendia unir-se com a faísca que brilhava em seu rosto. A faísca não era algo
que pudesse ser capturada ou roubada. O Arconte principal tomou uma mostra da
costela esquerda de Adão quando este jazia dormindo e fez com ela um vaso que
ele encheu com uma porção de sua luz. A forma do vaso era feminina. Ela foi
chamada Eva, a primeira mulher.
Quando Adão despertou olhou
para a mulher e reconheceu nela sua própria imagem. Ela havia nascido da sua
própria semelhança e ele a amou como se amava a si mesmo. Ele disse:
“Verdadeiramente, é sangue de meu sangue e carne de minha carne. Nos uniremos e
seremos um.”
A vontade de Samael era
fazer com a mulher em segredo enquanto o homem dormia e dessa maneira arrebatar
o poder da faísca que havia dentro dela. Ele pretendia infundir seu poder em
suas obras, como o havia liberado antes na união com sua consorte. A beleza da
mulher despertou sua luxúria. Ela era inocente e não entendia que estava nua.
Lilith viu o propósito de
seu consorte e aumentou a maldade em seu semblante. A beleza de Eva era maior
que sua própria beleza porque a faísca da Mãe brilhava dentro dela. A beleza de
Eva procede da luz mas a beleza de Lilith é das sombras. Lilith todavia
desejava a Samael mas já não podia fazer com ele. A mutilação do Dragão Cego os
mantinham separados. O encanto de Eva era como fel e absinto em sua boca.
Na obscuridade da lua
minguante ela se transformou em uma coruja. Voou desde os mais altos ramos da árvore
no meio do Paraíso chamada de Árvore do Conhecimento do Bem e do Mau. Com
agudos gemidos ela convocou a mulher de sua cama antes que Samael tivesse
relações com ela. A mulher seguiu os gritos até a raiz da árvore. Ela se
maravilhou muito da sua beleza. Sempre no passado havia estado oculto detrás
das asas dos anjos.
Lilith disse a Eva,
“Desperta da profundidade de teu sonho. Levanta-te da cama de tua embriaguez.
Tu és uma Deusa que caiu desde seu estado. Coma da fruta dessa árvore e
reconhecerás tua nudez.”
Ela se transformou em sua
forma de serpente e estendendo entre suas mandíbulas uma fruta da árvore à
mulher. Maravilhando-se de suas palavras, Eva comeu da fruta. Seus olhos se
abriram a sua nudez e teve vergonha. Ela correu com a fruta até Adão e o disse
que a serpente a havia revelado. Adão também comeu da fruta. Seus olhos se
abriram a sua nudez e conheceu a vergonha. Eles encontraram folhas com as que
se cobriram e se esconderam da ira de Samael.
Quando o Arconte principal
advertiu que o homem e a mulher se haviam retirado de sua presença ele montou
em cólera. Entendendo em seguida que eles haviam comido as frutas da árvore.
Samael os maldisseram e também à terra que pisavam. Eles viram a ignorância da
obscuridade que havia dentro deles mas estavam assustados para censurá-lo. Ele
ainda era seu Deus. Os expulsou do Paraíso e os vestiu com peles de sombras.
Para que eles não regressassem pôs um Arconte na porta deste com uma espada
flamejante.
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